Polémica em torno da espionagem norte americana no Teatro Carlos Alberto
Polémica em torno da espionagem norte americana no Teatro Carlos Alberto
O grupo de teatro "Visões Úteis" apresenta "Ficheiros Secretos", no Teatro Carlos Alberto, no Porto, que não busca inspiração na série televisiva, mas sim na polémica em torno da espionagem norte-americana.
Não são os ficcionais Fox Mulder ou Dana Scully que são evocados no texto criado por Ana Vitorino e Carlos Costa, mas antes personagens bem reais como o Edward Snowden, que revelou a dimensão da vigilância electrónica norte-americana, ou Bradley Manning, a fonte no caso Wikileaks.
Segundo Carlos Costa, o universo destes "Ficheiros Secretos", em cena até dia 24, é "o desejo revelado pela nova espionagem de ultrapassar a espionagem mais humana e de controlar o mundo todo, de vigiar tudo, de ouvir tudo".
Na peça, o cenário estende-se pela plateia e os espectadores sentam-se em redor do palco, no centro do qual há uma mesa com vários objectos. À volta da mesa, três personagens de bata branca vão tentando tirar sentido de várias informações e ligar factos desconexos.
"Estas três personagens são como três analistas que estão no seu trabalho rotineiro que constantemente recebem cápsulas com informação, os sinais, e estão obrigados a encontrar-lhe um sentido", explicou Carlos Costa, actor como Ana Vitorino, com quem partilha a direcção da peça. O terceiro actor é Pedro Carreira.
Carlos Costa admite que a peça tem traços de sátira mas acrescenta que "quando se conhecem os dados não é tanto uma paródia quanto isso".
O elemento do grupo "Visões Úteis" evoca o caso do responsável pela agência de vigilância norte-americana NSA, Keith Alexander, que "começou por destacar-se na sua carreira por avançar com a ideia dos sinais, das relações, explicando aos seus colegas que se reunissem muitos dados era possível cruzá-los e eles revelariam alguma coisa".
Esta tendência, recorda Carlos Costa, reforçou-se "na sequência do 11 de Setembro de 2001, quando os americanos descobriram que tinham todos os dados para ter impedido o que aconteceu só que não os relacionaram".
Ao longo da peça, os três analistas lidam simultaneamente "com o problema de um sujeito que na verdade são quatro histórias reais" explicou Carlos Costa. E essas histórias são as de Edward Snowden, a Bradley Manning, a Alan Turing o "pai da computação gráfica" e Nelson Mandela.
Os analistas vieram de férias e descobrem que as suas "narrativas lhes fugiram ao controlo", como aconteceu aos escritores da peça. "Em Julho julgávamos ter o espectáculo estruturado em volta de determinadas ideias, quando em Agosto acontecerem uma série de coisas à volta dos nossos tópicos principais".
Durante a peça, os espectadores são chamados a participar numa série de testes que incluem a exibição de fotografias, óculos de visão nocturna, um inquérito e um aloquete.
A estreia está marcada para dia 14 de Novembro às 21:30.
Retirado do HardMúsica