Cinema - "Até amanhã Camaradas" um exemplo de luta
"Até amanhã Camaradas" um exemplo de luta
Recordamos que em 2005, Joaquim Leitão realizou uma série televisiva, com estreia na SIC, com argumento de Luís Filipe Rocha e produção de Tino Navarro, partindo do romance "Até amanhã, camaradas", de Manuel Tiago, pseudónimo literário que Álvaro Cunhal só desvendou em 1994.
A obra gira em torno da vida do PCP e dos seus funcionários e militantes nos anos 1950 e 1960, da clandestinidade, das lutas populares e da resistência ao regime fascista, tendo sido publicada em 1974 pelas Edições Avante e Manuel Tiago era, então, um autor desconhecido.
Joaquim Leitão diz que pegou nas filmagens da série mas deu-lhes uma montagem e organização diferentes, não introduzindo cenas novas o que foi o suficiente para estarmos perante um filme de excelente realização.
Gonçalo Waddington é Vaz, um funcionário do Partido que tem como missão organizar, numa determinada região, camponeses e operários na luta contra o fascismo e Salazar, ou seja a opressão e a fome.
É neste trabalho difícil, perigoso, cheio de armadilhas que se desenrola toda a trama do filme, mostrando de forma muito clara e evidente a vida na clandestinidade, as fugas precipitadas e bem ou mal sucedidas quando o esconderijo era descoberto, as rusgas violentas da PIDE.
Por outro lado Vaz mostra o funcionário firme, determinado, que segue as orientações do Comité Central, que as transmite, de forma imperativa sem dar margem a grandes discussões.
Talvez porque na época o êxito da luta e da própria vida dependia dessa determinação. Diga-se em abono da verdade que Gonçalo Waddington transmite essa força e essa vontade de vencer.
Mas Manuel Tiago introduz no seu romance um personagem mais maleável, mais doce chamemos-lhe assim, mas igualmente determinado e forte, Ramos, uma interpretação de Paulo Pires.
Ramos é o momento do filme em que o amor, que também existia na clandestinidade, e quantos filhos há dessa clandestinidade, parece fazer um intervalo na luta dura que se desenrola todos os dias.
Mas este intervalo só sucede por momentos porque a luta desenvolve-se a greve consegue-se com uma vitória estrondosa seguida da repressão feroz de um governo que não sabe reconhecer que está errado.
E Joaquim Leitão dá-nos momentos de prisão e tortura que não olha a meios para atingir os fins. Desde os “rachados” que não conseguem resistir à dor e denunciam os camaradas até aos que morrem à força de pancada e pontapés.
Esses momentos de morte e dor são acompanhados por caras de gozo e prazer dos seus causadores dando assim uma imagem real e concreta de quem dirigia e governava o país, na época.
Mas depois de silenciados e presos alguns dos comunistas mentores da revolta e da afirmação de Liberdade, outros ficaram e o trabalho da reorganização do Partido na região começou, recomeçando o recrutamento, a criação de comités locais e o retomar de ligações.
A mensagem de que vale a pana lutar pelos nosso ideais tornou-se intemporal e parece-nos que hoje continua a ser cada vez mais urgente.
E esta mensagem Joaquim Leitão deixa-a muito clara neste filme, dando relevo na parte final à determinação, força e capacidade de militância dos que sobreviveram, não esquecendo os camaradas mortos, mas lutando para que os vivos, não tenham o mesmo fim.
É curioso porque ao ver este filme ficamos com a sensação que a unidade e a fraternidade que une comunistas em tempos de crise, envolveram a equipa de "Até amanhã camaradas" revelando um excelente trabalho de grupo bem dirigido e coordenado por um mestre neste caso Joaquim Leitão
Com três horas de duração, o filme conta no elenco com mais de 130 actores, como Gonçalo Waddington, Leonor Seixas, Marco D´Almeida, Carla Chambel, Paulo Pires, Cândido Ferreira, Adriano Luz e São José Correia, além de alguns milhares de figurantes.
Joaquim Leitão é autor de filmes como "Duma vez por todas" (1986), "Uma vida normal" (1994), "Adão & Eva" (1995) “Tentação”(1997) e "A esperança está onde menos se espera" (2009), tendo terminado em Outubro a rodagem de "Sei lá", a partir do romance homónimo da escritora Margarida Rebelo Pinto.
Álvaro Cunhal nasceu a 10 de Novembro de 1913 e morreu a 13 de Junho de 2005.
"Até amanhã Camaradas" chega às salas de cinema a 07 de Novembro.
Retirado do HardMúsica