Quatro palcos, 66 bandas. Baroness, Connan Mockasin, Shangaan Electro. Venha daí o festival
O Milhões de Festa é o festival em que podemos, num momento, estar a abanar a cabeça furiosamente enquanto nos entregamos à nobre arte do air guitar, para, no momento seguinte, dar movimento à anca com ritmos quebrados vindos de África via Londres. É o festival em que há concertos em piscinas municipais, petiscos e vinho verde servidos num dos palcos e, por todo o lado, a sensação de que, por uma vez, afirmar que (também) se vai ao Milhões pelo ambiente (perdoem o palavrão) não exclui a música da equação. Porque a música é, na verdade, o centro de tudo, e é uma partilha de imaginários comuns, intimamente ligados à cultura pop, que transborda depois para a vivência do barcelense Milhões.
Na sua quinta edição, que teve ontem dia de recepção e que se inicia hoje, o cartaz programado é fiel ao espírito do festival. Temos no domingo stoner rock muito stoner com os Red Fang para libertar o air guitar e lembrar o que os Queens Of The Stone Age deviam ainda ser, e imediatamente antes deles, a folk de laboratório dos Alt-J, revelação recente da música britânica que será uma das grandes curiosidades de um festival delas repleto.
Por exemplo sábado, 21h30, Palco Milhões. Connan Mockasin, ou, acabámos de nos lembrar disto, o neozelandês voador. Não por ser fantasma condenado a errar pelos sete mares, mas por andar a criar pop psicadélica que subverte os seus alicerces para a transformar em matéria alucinatória de guitarras em liquefacção, vozes saídas do lado negro dos Of Montreal e um imaginário de colorido delirante. O último álbum,Forever Dolphin Love, saiu no ano passado e não é só o nome que é um primor.
No mesmo dia, no mesmo palco, teremos El Perro Del Mar (ver texto principal) e os Weedeater (mais rockalhada para heabganging generoso). Mas também o electro-funk-rave'n'roll de Publicist, que é Sebastien Thomson, extraordinário baterista dos Trans Am e dos Weird War, e a trip cósmica dos sempre imperdíveis Gala Drop, ou as memórias pós-punk, revistas pela lente DFA, dos Prinzhorn Dance School. Há portanto, mil sons para onde um homem ou uma mulher se virarem.
Domingo, da revitalização da música sul-africana dos irresistíveis Shangaan Electro ao portento que imaginamos ser o encontro entre os barcelenses Black Bombaim, autores de Titans, um dos discos do ano, com os ingleses Gnod, vai no mesmo palco, o Vice, uma distância de duas horas. A tónica, claro, está naquilo que foge a massificações estéreis. No Milhões, encontramos um caleidoscópio do state of the art da música popular urbana, definido pelo olhar da organização.
Do vinho verde ao industrial magrebino
Resumindo, entre hoje e amanhã, três dias preenchidos num ritual prazenteiro.
Primeiro, a partir das duas da tarde, o público instala-se na piscina para, do fresco da água, ver os concertos dos ALTO! ou Equations (hoje), da dupla Moulinex + Xinobi ou dos sátiros hip hop Bro-X, vernáculo barreirense (amanhã). À mesma hora, entre às 14h30 e as 19h, o Palco Taina, o de um encontro feliz entre música de hoje e diversão intemporal - taina é expressão que designa uma refeição abundante e, como tal, servem-se petiscos da região e o bom vinho verde -, apresenta gente como os Savanna (hoje), Jorge Coelho (amanhã) ou Kilimanjaro (domingo). Depois, já no Parque da Cidade, o festim continua no Palco Vice, programado pela revista e webzinecom o mesmo nome, e no Palco Milhões. O rockuduro dos Throes + Shine, a música inclassificável da banda de culto L'Enfance Rouge (industrial magrebino? pós-punk mediterrânico?), as meticulosas criações dos Memórias de Peixe ou o reencontro com os La La La Ressonance, banda da casa, banda importante. E os League, os Youthless ou os Sensible Soccers. São 66 bandas em quatro dias. São milhões. Nos próximos três dias, tudo será milhões em Barcelos.
Noticia do Ipsilon