Fundação paga volta ao mundo a estudantes
A fundação – financiada pelo empresário Carlos Torres para dinamizar e apoiar iniciativas culturais e de educação nos concelhos de Carregal do Sal e Nelas – levou, pela primeira vez em 2011, dois jovens a visitar 25 países e ganharem experiência de vida, antes de entrarem para a universidade. E outros quatro estão actualmente a viajar pelo mundo com o apoio desta Fundação Lapa dos Lobos: dois pela Guatemala e outros dois estão nos Açores, prestes a partir para o Brasil.
Uma iniciativa única entre as cerca de 500 fundações portuguesas, das quais cerca de 200 de iniciativa privada. «É certamente um projecto inédito, que é muito útil numa altura em que a maioria das Fundações se debate com falta de dinheiro para este tipo de apoios», diz ao SOL o presidente da assembleia geral do Centro Português de Fundações, Carlos Monjardino.
O também presidente da Fundação Oriente lembra que a «maioria das bolsas concedidas pelas principais fundações, como a Gulbenkian, são dadas já a estudantes universitários ou de mestrado e doutoramentos como forma de os ajudar a prosseguir os estudos em Portugal ou no estrangeiro». Muito mais raros são os apoios para os alunos que acabam de terminar o ensino secundário.
A ideia surgiu ao empresário Carlos Torres por acaso durante um encontro com estudantes do ensino secundário organizado pela fundação que criou em 2007 para dinamizar a Lapa do Lobo, aldeia com apenas 700 habitantes. «Ouvi uma palestra de um aluno do 12º ano da secundária de Carregal do Sal, o Gonçalo, que dizia que o seu maior sonho era poder fazer um gap year – uma pausa de um ano nos estudos para viajar antes de entrar na universidade», explica. E decidiu pagar-lhe a viagem. Gonçalo Azevedo Silva e o colega Tiago Marques, então com 18 anos, iniciaram um gap year. Entre Dezembro de 2011 e Junho de 2012 percorreram a Austrália, Nova Zelândia, Brasil, China, Nepal Índia, Indonésia e Timor e vários países europeus. «Quis dar a alguns estudantes com 18 anos a oportunidade de fazer a viagem que eu adoraria ter feito», conta o administrador da Resul, empresa de equipamentos e soluções de energia.
‘Viagem inesquecível’
Cada viagem custou seis mil euros, com a maioria dos percursos a ser feito de camioneta ou comboio. Os jovens tinham como missão participar em acções de voluntariado e acções nas comunidades nos vários locais por onde passavam. Ficavam alojados em casas de famílias, organizações não governamentais ou hostels. Eram também ‘obrigados’ a documentar com imagens e a relatar a experiência num blogue da viagem, que será agora editado em livro.
Para Gonçalo Azevedo Silva, agora no primeiro ano da Economia do Instituto Superior de Economia e gestão (ISEG), a experiência foi «inesquecível»: «Nunca pensei ter esta oportunidade, que me abriu horizontes, deu-me maturidade fez-me ultrapassar muitas barreiras».
Foi a Índia, o país que mais o marcou. Ali, ele e Tiago deram aulas em inglês a crianças de aldeias que ficavam a 10 horas da cidade mais próxima, tendo chegado a fazer viagens de comboio durante quase um dia. «Ficamos a conhecer melhor o mundo e sobretudo a conhecer melhor as nossas capacidades», diz.
Apoio a 42 alunos com bolsas
Os jovens quiseram partilhar a experiência e criaram, por sua iniciativa, a Associação Gap Year Portugal para divulgar as vantagens deste ano de intervalo nos estudos. Na página na internet (gapyear.pt) dão informação e dicas sobre o assunto. «Em Portugal não havia nada semelhante e neste momento já temos 50 inscritos a pedir informação para viajarem», remata Gonçalo.
Além de promover o gap year outra grande aposta da Fundação Lapa do Lobo é apoiar com bolsas 42 estudantes de licenciatura, doutoramento e mestrado em dois concelhos da Beira Alta: Carregal do Sal e Nelas. Também dinamiza acções educativas abrangendo cerca de dois mil alunos. Ha cursos de inglês ou guitarra, ateliers, espectáculos de música e palestras onde os estudantes podem participar.
Retirado do Sol