A ILHA DESCONHECIDA
Espetáculo de teatro a partir de “O Conto da Ilha Desconhecida” de José Saramago
M/6
Coprodução: Fundação José Saramago e Trigo Limpo teatro ACERT
“Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar” *
Como é que uma ilha poderá ser a utopia que há em cada um de nós?
Imagine-se um pensamento de uma Mulher da Limpeza: “Se não sais de ti, não chegas a saber quem és”. Imagine-se que um Homem que Queria um Barco sonhou com a Mulher da Limpeza e lhe segredou: “Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar”. Agora, imagine-se que estamos no lugar deste homem e desta mulher; que temos diante de nós três portas: a dos obséquios, a das petições e a das decisões. Qual delas seremos tentados a abrir?
No seu conto, José Saramago convida-nos a uma viagem em “que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não saímos de nós”. Habitar teatralmente esta aventura onde a metáfora se espraia na areia das palavras é desafiante. Parabolizar teatral e musicalmente uma narrativa que, sendo complexa, não se pode desligar da singeleza do pensamento que a originou, constitui um desafio artístico aliciante. A palavra teatral e musicada é o roteiro para a construção de personagens oníricas, fantasiosa e poético-amorosas. A música, território de eleição dos intérpretes, pisca o olho sedutor ao argumento, deixando-o fluir encantatoriamente. A cenografia e os figurinos são enxertias de uma só planta.
José Rui Martins
Uma ilha que navega até nós
O maior mistério com que nos confrontamos radica em nós mesmos. Não importa em que condição vivamos, género, idade ou profissão, estamos sempre acompanhados por perguntas inquietantes que parecem não ter resposta. A não ser que embarquemos na aventura de procurar a ilha desconhecida e descubramos que cada um de nós é o maior achado, diferente e poderoso, capaz de romper a monotonia que por vezes parece asfixiar-nos.
José Saramago escreveu um conto sobre o esforço humano quando lhe pediram que reflectisse sobre a utopia. Para ele nada é maior que a consciência activa da nossa personalidade. Activa, claro, porque o contrário seria a letargia e nesse estado ninguém entra no mar, apetrechado de pão, queijo, vinho e azeitonas negras, para ver florescer, no barco que somos, o amor e árvores de frutos. Para esta viagem até nós mesmos também é precisa a força da decisão, a que trazem consigo os criadores do Trigo Limpo Teatro ACERT para inventar oceanos e reis com os materiais mais simples e a poesia mais depurada. E a música: como poderia faltar a música numa viagem de um homem e uma mulher até ao máximo conhecimento e ao maior dos respeitos?
É sobre tudo isto a peça de teatro que a ACERT apresenta e oferece, a história do homem que quer um barco e se encontra com ele mesmo e com o amor possível, numa cerimónia mágica e entranhável que faz aflorar as lágrimas aos espectadores, belos entre contemporâneos que os dignificam na arte. Ninguém deveria perder «A Ilha Desconhecida» porque seria perder-se a si mesmo.
Pilar del Río
O Trigo Limpo teatro ACERT, após ter compartilhado com a Fundação José Saramago a criação do espetáculo teatral de rua A Viagem do Elefante, trilha, em coprodução, mais esta envolvente aventura guiada por o nosso escritor de livros e de sonhos.
* SARAMAGO, José. O Conto da Ilha Desconhecida