Chega de Pantera! Vamos uivar!
Já muito se falou de Panteras. Eu vou falar de Lobos. Prefiro assim.
Diz-se que o Lobo é um animal solitário mas na verdade não é.
O Lobo vive integrado num grupo tendo várias fases da vida em que se recolhe, é daqui que vem a sua fama de animal solitário. Ele aprende desde cedo - e gradualmente - até onde pode ir, a dar passos seguros. Vai ganhando experiência nos passos através das brincadeiras e só quando está preparado, é chamado - pelos mais velhos - a integrar as caçadas.
Nestas, o lobo aprende quem domina e quem se submete, quem comanda e quem é comandado, quem remata e quem defende. Aprende o que é o respeito. Aprende a técnica, a táctica e a estratégia.
Os mais velhos mostram-lhes como é. Os mais velhos e mais maduros, que já desbravaram todo o território por onde as crias brincam, debaixo dos seus olhos atentos, sabem quais são os perigos e os predadores. Pois, porque um predador também tem predadores. Mas o verdadeiro predador não fica agarrado à sua certeza nem à sua sabedoria. Ele desafia e desafia-se mantendo-se sempre atento ao que poderá ser uma oportunidade: sua ou de um outro.
Assim que estão suficientemente maduros, os jovens lobos têm que seguir caminho. Procurar e conquistar (se necessário) um terreno onde vão pôr em prática e repetir tudo o que lhes foi ensinado, desta feita, sozinhos. Fazer a sua própria vida sem a bênção do olhar dos anciãos. E seguir o mesmo caminho: procriar (ou não), ensinar (e aprender) e inevitavelmente morrer. E celebra sempre o nascimento, o crescimento e a morte. Celebra sempre este ciclo: a vida.
Devíamos ser mais como os lobos... Em vez de ficarmos a lamentar uma pantera saciada e cansada, devíamos subir ao cimo da rocha e uivar. O mais longe que pudermos. Foi isso que nos ensinaram antes de nos deixarem. Porque quem nos ensina nunca morre, e o uivo também é deles.
Auuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
Marta Ramalho
Retirado de A Vida de saltos Altos