Teatro - Escola da Noite regressa ao Gil Vicente
A Escola da Noite aceitou o repto da Ordem dos Médicos e associado às comemorações dos 35 anos do Serviço Nacional de Saúde, tem em a cena no Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra, a peça "Auto dos Físicos". Escrita e representada pela primeira vez entre 1519 e 1524, esta é a décima segunda peça vicentina encenada pela companhia de teatro conimbricense, no seu já vasto curriculum artístico.
Sempre receptiva a desafios A Escola da Noite aceitou o convite lançado pela Ordem para que a companhia se associasse às comemorações dos 35 anos do Serviço Nacional de Saúde. A escolha recaiu sobre o "Auto dos físicos" de Gil Vicente, aquele que é considerado um autor de transição entre a Idade Média e o Renascimento e, até agora, o mais encenado pela companhia. Em jeito de justificação por esta opção, A Escola da Noite diz "'Auto dos Físicos', fala-nos com muito humor, da importância da saúde nas nossas vidas. Os 500 anos que nos separam da sua escrita dão-nos uma dimensão (ainda assim pequena) da intemporalidade do tema".
Com um cenário minimalista e um desenho de luz de Rui Valente que envolve o desenrolar da ação, a peça é uma comédia, escrita no século XVI, que satiriza os médicos da corte. Pelo palco vão desfilando os quatro médicos (os "físicos") mais conhecidos da época e cada um com as suas mesinhas lá vai tentando curar um clérigo "morre" de um amor não correspondido. Brásia Dias, a comadre que em primeiro lugar tenta ajudar o padre, um moço transformado em (fraco) alcoviteiro e um padre confessor que compreende "bem demais" o sofrimento do seu colega; completam o leque de personagens desta divertida farsa, que termina com uma "ensalada" poética e musical, com referências a outras peças do autor e a elementos do cancioneiro tradicional.
Encenado por António Augusto Barros, o espectáculo conta com as interpretações de Filipe Eusébio, Igor Lebreaud, Maria João Robalo, Miguel Magalhães e Sofia Lobo. O cenário recupera um objecto carismático da história da companhia – a caixa desenhada por João Mendes Ribeiro que tem acompanhado boa parte do percurso vicentino d'A Escola da Noite. Os cabelos, como vem sendo hábito, ficaram a cargo de Carlos Gago e os figurinos e adereços são de Ana Rosa Assunção. Ainda na equipa técnica, Zé Diogo assegura a qualidade do som envolvente desta peça e Sofia Portugal faz o apoio vocal.
Como o encenador faz questão de mencionar e é ponto de honra d'A Escola da Noite, em todas a suas incursões vicentinas conjuga uma abordagem cénica contemporânea com o respeito incondicional pelo texto original, sem concessões nem actualizações forçadas. Cabe às restantes linguagens postas em cena (a gestualidade, a cenografia, os figurinos, os adereços, a música) o papel de ajudar a esclarecer os sentidos de algumas palavras que, ao longo dos 500 anos que nos separam de Gil Vicente, foram caindo em desuso. Para facilitar a compreensão, aos espectadores é distribuída uma folha de sala com um glossário e notas do contexto histórico em que o texto foi escrito e sobre as pessoas reais que Gil Vicente imortalizou.
Após uma curta apresentação de apenas quatro sessões para o público em geral, o espectáculo fica disponível, por marcação, em horário diurno para o público escolar de 30 de Setembro até 13 de Novembro. A sala tem lotação de 180 lugares e o preço dos bilhetes para as escolas tem o valor único de três euros, com entrada gratuita para alunos abrangidos pelo escalão A da ASE e para professores acompanhantes.
Em Fevereiro do próximo ano o Auto dos Físicos regressa a cena no Teatro da Cerca de São Bernardo, em horário nocturno, numa temporada dedicada exclusivamente à reposição de peças encenadas pela A Escola da Noite.
Retirado de HardMúsica