01
Fev14
Teatro - Marta Gautier traz risadas aos palcos portugueses
olhar para o mundo
Os palcos nacionais abrem as portas a "Vamos lá então perceber as mulheres... Mas só um bocadinho ..." de Marta Gautier, um monólogo de comédia que convida o espectador a perceber as mulheres (mas só um bocadinho).
É com "Vamos lá então perceber as mulheres... Mas só um bocadinho ..." em palco que Marta Gautier prova o contrário do ocasional comentário de que a comédia é um mundo de homens.
Já há muito tempo que as mulheres andam a conquistar em grande este terreno e com um pé de igualdade em fazer rir e em talento, e a artista não deixa aquém.O seu espectáculo sem malícia mas traquina convida o espectador a perceber um pouco no que vai na cabeça das mulheres, mas sem revelar demasiados segredos.
A sala enche e a boa disposição dos que se sentam em frente a um pequeno palco coberto de negro com apenas uma mesa e uma cadeira como decoração vibra no ar, um zum-zum de comentários que se eleva em cacofonia até desaparecer quando as luzes descem e uma voz pede, por favor, desliguem os telemóveis.Marta Gautier entra em palco com segurança e sem farsas; descontraída, o seu início não desdobra as duas horas de risada constante que se apresentam com o começo um pouco lento.
Apesar de parecer por de lado a audiência que não tem filhos (e vê-se os mais jovens a pensar "oh, não, outra vez não"), com a abertura de monólogo a retratar os pais que Marta Gautier trabalhava como psicóloga antes de saltar para o mundo dos palcos, a verdade é que este pequeno degrau é rapidamente escalado e leva a todos a uma viagem no passado até aos tempos de liceu, encontrando um ponto em comum: as personagens femininas marcantes na difícil altura da adolescência.
Apesar do título parecer vincar nas mulheres, Marta Gautier não tem dificuldades em puxar tanto por um sexo como pelo outro, captando a atenção de todos. O texto da autoria da artista é exposto com franqueza e bom espírito.
Um espectáculo dividido em dois actos, os quais passam pelo liceu, a adolescência, o início da vida adulta e, por fim, a família. Apesar do segundo acto não ser tão forte como o primeiro devido a incidir mais na família e em filhos (com o que nem todos se podem conectar), a artista nunca perde o entusiasmo nem deixa a audiência cair em tédio.
O fecho é um pouco abrupto e o monólogo final, intimista e sincero, deixa um pouco a desejar, mas não deixa de ter uma boa surpresa e animação, com alguma filosofia à mistura que não pesa na boa disposição de duas horas de risos.
O texto em si por vezes recorre um pouco a estereótipos usados e abusados, mas a qualidade é incontestável e o divertimento que traz ao público é ensurdecedor em gargalhadas e palmas. As palavras sobrepõem-se à presença em palco, a qual não é tão forte, mas compensa bem com o uso de um palco minimalista que não obscura a artista e dos props não excessivos que servem para ilustrar uma piada e não como "muletas".
Capaz de ter boa empatia com a sua audiência, Marta Gautier tem um estilo consistente e fácil de seguir, apesar de por vezes se parecer perder um pouco no seu monólogo.
No entanto, isso dá-lhe um certo candor, nivelando-se com o humor cínico mas nunca extenuante ou excessivamente deprimente ou negativo.
A artista brinca, sem atacar, as inseguranças que passam por todos nós, tanto homens como mulheres – mas, como o título indica, com a perspectiva de uma mulher.
Para quem gosta de rir ou precisa de um momento para desatar às gargalhadas, recomenda-se este espetáculo. Nem que seja só para conhecer as mulheres... mas só um bocadinho!Mais espectáculos nos seguintes dias
05 de Fevereiro (Teatro Villaret – Lisboa)
28 de Fevereiro (Teatro Sá da Bandeira – Porto)
Retirado do HardMúsica